Não sei como tudo isso começou. Mentira, sei sim. Antes era tão bom, eu não fazia as coisas por dinheiro, era por prazer. Quando comecei a compor minhas músicas e saia cantando por aí nas estações de metrô, o máximo que eu ganhava era um vídeo meu na internet com a legenda “olha que legal!” e às vezes, até jogavam umas moedinhas pra mim. Era disso que eu gostava. Fazer o que gosto por prazer.
Eu não escrevia meus raps pensando se ia vender ou não, eu me importava mais se a letra expressaria o que eu queria dizer para o mundo. Mas isso mudou. Hoje em dia, todos são dependentes do dinheiro, porque sem dinheiro não se tem casa, cama, comida…sem dinheiro, eu não consigo nem comprar uma caneta pra poder compor.
Um dia eu estava cantando numa estação de metrô, que eu sempre ia, eu adorava aquele lugar. Lá era enorme, as paredes eram iluminadas, sempre tinha uma exposição de algo e eu ia ver, gostava daquele lugar desde pequeno. E nesse dia uma pessoa me abordou quando terminei uma música e me disse: “Você canta bem, essa música é sua?”, meio sem jeito respondi que sim e veio a resposta: “Então também sabe compor? Vejo futuro em você e posso te ajudar se quiser seguir esse ramo.”, o homem estendeu um cartão pra mim onde tinha seu nome e seu telefone e saiu andando. Inicialmente achei meio estranho, claro. Minha mãe sempre dizia que “quando a esmola é demais, o santo desconfia”, mas sinceramente, eu não tinha nada a perder.
Chegando em casa liguei para aquele homem, conversamos e muita coisa aconteceu. Em pouco tempo eu já tinha gravado meu primeiro disco, havia mudado meu nome (porque sinceramente nunca gostei do meu, acho horrível e adorei ter a oportunidade de trocar meu nome por um nome artístico), haviam fã-clubes (sim, de pessoas que me adoravam), eu já estava fazendo shows e muitas outras coisas e sim, eu estava adorando isso.
Mas o tempo passou e hoje eu estou aqui, odiando o que faço. Sabe quando o que você faz para de ser algo prazeroso porque começa a ser obrigação? Foi o que aconteceu comigo. Quando ia compor, escrevia cada letra pensada, para que a música realmente transmitisse o que eu queria dizer, revisava várias e várias vezes, pra depois a equipe olhar pra mim e dizer: “essa música é horrível, ninguém vai gostar disso, não vai gerar dinheiro.”, mas o que eles não entendiam era que o que eu apenas queria era poder cantar aquela música sem me preocupar se ia gerar lucro ou não.
Haviam dias que eu apenas queria ficar em casa, com minha família, em datas especiais, como no Natal por exemplo, mas eu tinha shows para fazer e isso me impedia.
Tudo o que eu queria fazer passou a ser controlado, eu comecei a ser manipulado pelas pessoas que “cuidam” da minha imagem. Isso é horrível.
Estou escrevendo isso numa noite escura, aqui no quintal de casa, sentado na grama ao lado do meu cachorro, e não tem nenhuma estrela no céu. Eu gostaria que aquela história de que se você fizer um pedido pra uma estrela cadente, ele se realiza, mas nunca nem vi uma estrela cadente para testar. Aqui perto de casa passam muitos aviões e pelo menos vou fechar meus olhos e fingir que um desses aviões é uma estrela cadente, será que ele atende ao meu pedido de voltar no dia em que eu estava na estação que amo, só para poder recusar a proposta daquele homem e viver como eu sempre quis? Fazendo música porque gosto? Espero que sim…

Esse texto faz parte do projeto 1000 músicas para escrever sobre e foi escrito com base na música Airplanes – B.O.B ft. Hayley Williams.